Parece - mas pode ser lenda - que o pai de Piero Manzoni, um
industrial do ramo de enlatados, um dia se revoltou com seu filho artista e
disse: “Você é um artista de merda”. Piero respondeu ao pai na mesma moeda. Arranjou
90 latinhas, numerou, botou 30 gramas de seu próprio cocô em cada uma delas (ou disse botar) e no rótulo escreveu “Merda d’artista” em
quatro línguas (italiano, francês, inglês e alemão). Fechou industrialmente as
latas, assinou e as vendeu pelo preço equivalente
a 30 gramas de ouro. Isso foi em 1961. Desde então, as latas ganharam o mundo
fazendo parte de coleções particulares e públicas e ficaram fechadas até 1989, quando
um artista francês abriu e expôs a lata nº 5 como obra sua, chamada de a “lata de Piero Manzoni aberta por Bernard Bazile”. Em
1991 num leilão da Sotherby’s, uma das latinhas foi vendida por US$ 67.000. Nessa
época, 30 gramas de ouro valiam US$
400, ou seja, a merda em trinta anos valorizou 167,5 vezes mais que o ouro. A
gente pode se perguntar por que motivo alguém paga tanto por uma lata de
excrementos. Para que serve 30 gramas de
merda? Mas pensando bem, pra que serve
30 gramas de ouro?
A “Merda de Artista” se tornou um dos ícones da Arte Conceitual. Talvez o maior valor dessa obra seja o fato dela questionar a legitimidade, a autenticidade, a
superficialidade, a futilidade, o fetichismo, o mercado, o valor e uma série de outros
parâmetros das obras de arte. Manzoni conseguiu vender a preço de ouro o
produto mais impuro e rejeitado que o homem faz. Ele transformou merda em Arte e assim nos
lembra que Arte é transformação. Nesse sentido, a Natureza é artista, pois é
capaz de fazer surgir da terra estercada as flores mais bonitas e perfumadas. Na “Merda de artista”, Manzoni enlata seus excrementos de forma que fiquem ali hermeticamente
trancados para sempre sem sofrer nenhuma mudança.
Criando o “Lixo de Artista”, retomei a ideia de Manzoni, mas em vez de "esterilizar" meus excrementos repetindo a “Merda de Artista”, optei por colocar em 90 latinhas 30 gramas de húmos fabricado por minhocas caseiras, com os restos dos legumes e frutas que consumo todos os dias para fazer meu suco matinal. O lixo do artista, como toda sua arte, deve ser reciclado, reaproveitado, transformado. As latinhas de “Lixo de Artista” vêm fechadas, porém prontas para serem abertas a qualquer momento. Uma vez abertas, a luz se encarrega de promover a transformação. Nas palavras de Nietzsche, (nosso mundo) é um mar de forças agitadas que provocam sua própria tempestade, transformando-se eternamente num eterno vaivém, com imensos anos de retorno com um fluxo perpétuo de suas formas. Portanto, o produto do artista não deve permanecer fechado. Ele tem que ficar a mercê das leis da transformação, da mudança, da vida. Ao abrir a lata de “Lixo de Artista” liberamos as forças da Natureza para agirem.
Lixo de Artista - Em minhas latinhas, além de 30 gramas de húmos fabricados por minhocas que transformaram meu lixo, colocarei uma semente de pitanga. No meu jardim tem uma pitangueira, e volta e meia a árvore que eu mesmo plantei, se enche de frutinhas vermelhas. Todas são pitangas, mas nenhuma é idêntica à outra e não tem o mesmo gosto. Cada uma é uma. Depois de comer a fruta, guardo as sementes. Quem quiser abrir a latinha e molhar a terra verá que depois de um tempo uma muda de pitangueira vai nascer. Plante a muda em algum lugar. Em algum tempo voce terá uma arvore com novos frutos que poderão virar outras árvores.
Temos que abrir as portas para deixar a luz entrar e a transformação acontecer.
A vida quer viver, a Arte quer criar.

Criando o “Lixo de Artista”, retomei a ideia de Manzoni, mas em vez de "esterilizar" meus excrementos repetindo a “Merda de Artista”, optei por colocar em 90 latinhas 30 gramas de húmos fabricado por minhocas caseiras, com os restos dos legumes e frutas que consumo todos os dias para fazer meu suco matinal. O lixo do artista, como toda sua arte, deve ser reciclado, reaproveitado, transformado. As latinhas de “Lixo de Artista” vêm fechadas, porém prontas para serem abertas a qualquer momento. Uma vez abertas, a luz se encarrega de promover a transformação. Nas palavras de Nietzsche, (nosso mundo) é um mar de forças agitadas que provocam sua própria tempestade, transformando-se eternamente num eterno vaivém, com imensos anos de retorno com um fluxo perpétuo de suas formas. Portanto, o produto do artista não deve permanecer fechado. Ele tem que ficar a mercê das leis da transformação, da mudança, da vida. Ao abrir a lata de “Lixo de Artista” liberamos as forças da Natureza para agirem.
Lixo de Artista - Em minhas latinhas, além de 30 gramas de húmos fabricados por minhocas que transformaram meu lixo, colocarei uma semente de pitanga. No meu jardim tem uma pitangueira, e volta e meia a árvore que eu mesmo plantei, se enche de frutinhas vermelhas. Todas são pitangas, mas nenhuma é idêntica à outra e não tem o mesmo gosto. Cada uma é uma. Depois de comer a fruta, guardo as sementes. Quem quiser abrir a latinha e molhar a terra verá que depois de um tempo uma muda de pitangueira vai nascer. Plante a muda em algum lugar. Em algum tempo voce terá uma arvore com novos frutos que poderão virar outras árvores.
Temos que abrir as portas para deixar a luz entrar e a transformação acontecer.
A vida quer viver, a Arte quer criar.

Edgar, que beleza de texto ! Tem que ser acrescentado também "escritor", ao conjunto, descrito no jornal O Globo, dos seus multi talentos ! Parabéns ! bjs
ResponderExcluirObrigado Adriana, que bom.
ExcluirLINDO! Hiper filosofico, verdadeiro, ate mesmo engracado, e, of course, poetico. Parabens MAN!
ResponderExcluirTks a lot man, sua opinião é valiosa
Excluir