terça-feira, 13 de junho de 2017

Abaixo a Fórmula 1



Uma vez meu filho me perguntou: “Mas pai, na sua época tinham mania de automóvel né?” Estranhei aquela pergunta repentina mas tive que concordar quando ele me citou pelo menos umas 10 músicas da jovem guarda onde o tema era o carro.
Acho que foi Le Corbusier que disse que o homem “de hoje” (anos 50) era feito de “cabeça, tronco e rodas”
Que me desculpem meus amigos que gostam de fórmula 1, mas os tempos mudam e “esportes” como touradas, pesca de marlins e automobilismo deveriam desaparecer. São investidos (jogados fora) por ano algo como 3 bilhões de euros na Fórmula 1 (é isso mesmo?). Praquê? Pra você ver aquele monte de gente com cara de cafajeste estourando champanhe, passeando de mocassim, muitos óculos escuros, cabelos abundantes, bond girls e carros que fazem um barulhão e parecem passar em câmera lenta na tela da televisão enquanto no autódromo imagino que eles passam e desaparecem tão rápido que se você estiver distraído nem os vê passar. Vez por outra algumas mortes trazem emoções mais fortes para esse esporte onde o que manda mesmo é o capital, a força do motor, a máquina e a propaganda. Aliás, um cara sentado por horas dentro de um carro dando voltas no mesmo lugar não me parece nem estar fazendo um esporte. Se isso é esporte penso que dirigir taxi deve ser um esporte mais útil e divertido. Sugiro que todo esse dinheiro investido em automobilismo deveria ser investido na pesquisa cientifica para se descobrir e implementar outro tipo de transporte que não o carro. Carro já era. Sim, eu tenho o meu e não prescindo dele, mas sei que estou errado. Vamos pesquisar o transporte aéreo, o teletransporte, a telepatia, os trens bala, algo que desafie a gravidade, algo que não polua, que não seja tão caro e que não ocupe tanto espaço. O que adianta inventar carros que andam a 300 por hora se não podemos passar dos 100 ou nas cidades às vezes ficamos horas parados nos engarrafamentos e outras mais horas para achar uma vaga? Isso tudo sem falar naqueles que nem podem ter um carro e que se espremem em ônibus que levam 4 horas para os transportarem da casa ao trabalho.
Se pelo menos o Senna estivesse vivo.

sábado, 18 de março de 2017

ALVINHA


Alvinha, você foi um cachorro muito legal. Você foi o melhor cachorro que eu tive, o mais bom caráter, a mais boazinha e mansa. Incapaz de morder, incapaz de guardar qualquer rancor ou mágoa. Adepta da não violência. Peço desculpas pelas vezes que perdi a paciência com você. Hoje te vejo assustada, cambaleando. Me parece que você tem medo de morrer, de sair desse mundo e se entregar ao nada. A gente pensa que só nós humanos temos medo de morrer e que a morte para os bichos é uma coisa natural, tipo deita, relaxa e dorme. Vejo você assustada, sem graça, quase pedindo desculpas para poder morrer, para nos deixar aqui em casa sem você. A cola da vida é forte e enquanto vivemos, enquanto somos, não dá para imaginar o não ser. Acho que por isso dá esse medão. O negativo, o outro lado, o nada; não dá pra imaginar, não existe pensamento, palavra ou imagem pois qualquer palavra, qualquer imagem, qualquer pensamento logo deixa de ser e o nada. Alvinha, pode ir em paz, você vai encontrar o Tião, nem sei se você gostava mesmo muito dele. Você vai encontrar a Ivna e mais um monte de gente e de cachorros legais. Manda lembrança pra Alfa, pro Úse, pro Edinho. Quem sabe você encontrará Platão, Nietzsche, Einstein, Proust, Picasso com o basset que ele tinha, Clarice com Ulisses. Se você voltar um dia como gente para esse mundo, tenho certeza que você vai voltar uma pessoa muito legal (sim, eu exagero no “legal” você sabe disso) e sortuda porque você nunca fez mal a ninguém e a nenhum bicho. Mas sabe o que? Não vou desejar que você volte como gente não. Talvez seja melhor você ficar por lá mesmo, no céu, no éter no nada, em nenhuma e em toda parte. Ser gente é muito difícil, ser gente é muito triste, sobretudo quando a gente vê que nosso cachorro vai morrer e que está com medo, e a gente não pode fazer nada para ele ir em paz.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

ARTS-TEZÃO

Meu mestre me ensinou que só se inventa trabalhando. Artesão primeiro, artista depois. A estátua vai se mostrando bela ao escultor à medida que ele esculpe. A arte surpreende primeiro o próprio artista porque é o resultado de um trabalho que une a técnica ao sentimento, o pensado ao inusitado. O desejo de agradar ou impressionar quando se sobrepõe ao desejo de fazer, de construir, sempre afasta o artista de seu verdadeiro caminho. Muitos artistas contemporâneos, sobretudo aqueles que saíram da publicidade e que talvez, não por acaso, são os que suas produções alcançam os preços mais altos do mundo, como Damien Hirst e Jeff Koons, (este último se gaba ser incapaz de fazer qualquer coisa com as mãos) trabalham com uma equipe que faz, que realiza suas idéias. Camille Paglia os define como charlatões, pois vinda de uma família italiana de artesãos ela sabe o valor de se por a mão na massa, de trabalhar, de moldar, de se ligar intimamente com o resultado do seu trabalho. Talvez por um lado inspirados por Duchamp, o maior marqueteiro do século XX e por outro lado seguindo um caminho que busca o maior valor pelo menor trabalho, uma tendência da arte contemporânea se limita a impressionar. Impressionar pelo inusitado, pelo chocante, pelo tamanho, pela "cara de pau" ou por qualquer coisa fora do comum. A Natureza já nos impressiona todos os dias com montanhas, vulcões, auroras e crepúsculos devidamente aplaudidos no arpoador. Não quero jogar pedras em ninguém e muito menos ser tachado de reacionário - pois qualquer crítica a uma realização contemporânea recebe na hora o rótulo de "reacionária" - Cada um deve fazer o que gosta, o que quer, o que consegue e desejo a todos muito sucesso, mas hoje, dia de reis, meu pai faria 101 anos e me lembrei que ele sempre se definia um artesão. Aproveito para parabenizar também meu amigo e grande artista Helio G. Pellegrino, que nasceu hoje há alguns anos e que é um artista, Arts-tezão incansável na capacidade de domar, modificar recriar materiais e formas, e acabo esta ladainha com uma frase do filósofo francês Alain: "Heurreux qui orne une pierre dure" quer dizer: Feliz quem orna uma pedra dura.