quinta-feira, 29 de setembro de 2016




PORQUÊ MARCEL PROUST?



Primeiro porque eu já fiz Machado, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Lima Barreto, um pequeno busto de Vinícios e outro de Mário Quintana e farei em breve uma escultura do grande NELSON Rodrigues (falta fazer Chico Buarque). Mas não é só por isso. Por mais que os leitores de manchetes e emoticons achem que Proust não passa de um asmático e prolixo comedor de "madeleines", quem gosta de ler sabe que Proust está para a literatura assim como Einstein está para a física. Ele revolucionou o romance (e as artes). Até então o romancista era um cara que procurava contar uma história com o máximo de objetividade, assim como um pintor pintava uma paisagem. Proust como Einstein, mostram que o observador é solidário com o que observa, ele não está de fora do mundo que descreve, mas é parte integral e essencial. Proust representa a sociedade francesa da Belle époque. Através de seu poder de análise, de sua crítica, podemos testemunhar a moda, a educação, as maneiras, as manias, os gostos, os desvios, enfim, o comportamento de todo tipo de pessoas que viveram em sua época. Mas muito mais do que retratar o seu tempo, ele vai fundo na observação da alma humana. Além das idiossincrasias relativas à classe social, ao gênero ou à época, ele vai ao encontro do que há de comum entre os homens. Franceses, ingleses, brasileiros ou africanos, todos os homens amam, sofrem, se desesperam, temem a morte e não entendem nem aceitam o fluir do tempo. Apesar dos avanços da ciência ou da crença em alguma religião, o homem não consegue resolver as questões mais simples relativas à sua existência como: porque ou para que existimos, de onde viemos, para onde vamos e sobretudo, quem somos nós. Não sabemos se somos um amontoado de pessoas diferentes que habitam um corpo através do tempo ou se somos uma só e única pessoa e as mudanças são uma ilusão. Sem medo nem dogmas, Proust mergulha na análise do espírito humano, e mais do que um cientista ou um líder religioso, ele consegue nos expor nossa alma da mesma forma que um aparelho de raio x pode expor nossos órgãos. Depois de ler Proust ficamos mais tranquilos, mais à vontade para viver, pois descobrimos que além de todas as mudanças e de tudo o que fica para trás no passado, existe um ser espiritual, essencial e verdadeiro, imutável e eterno.

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